terça-feira, 6 de novembro de 2018

REFLEXÃO - Como é que a sociedade chegou nesta situação tão desigual?


Em “A Gênese” Allan Kardec nos explica que 
"os males mais numerosos são aqueles que o homem criou para si, por seus próprios vícios, aqueles que provém de seu orgulho, de seu egoísmo, de sua ambição, de sua cobiça, de seus excessos em todas as coisas; aí está a causa das guerras e das calamidades que elas geram, das dissensões, das injustiças, da opressão do fraco pelo mais forte, enfim, da maior parte das moléstias". 
(A Gênese. Cap. III. n. 06).

ATUALIDADE - A renovação do movimento espírita virá pela juventude...Ou não virá


Por Franklin Félix na Carta Capital

"Qual seria o caráter do ser humano que praticasse 
a justiça em toda a sua pureza? 
— O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus; porque praticaria 
também o amor ao próximo e a caridade, sem os 
quais não há a verdadeira justiça." 
 (Livro dos Espíritos, Allan Kardec) 

Por que, diante de tantas violações – direitos humanos, trabalhistas, sociais, previdenciárias – as federativas não descem do muro e se posicionam radicalmente contra, assim como fizeram CNBB, CONIC, Fórum Ecumênico ACT Brasil e a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito? 

Como enfrentar a onda conservadora e reacionária no movimento espírita e que tem expulsado aqueles que não pensam igual ou que se opõem aos dirigentes, que agem como verdadeiros donos das casas espíritas? 

Como nós, espíritas progressistas, podemos interferir para que o Movimento Espírita Brasileiro (MEB), assim como acontece com outras comunidades de fé, não se torne uma junta formada apenas por brancos, idosos e heterossexuais? 

Atravessamos um período difícil para os sonhadores, marcado por forte crise política, social, econômica e espiritual, com a ascensão de um governo autoritário, conservador, violento e antidemocrático. Temos assistido, espantados, o crescimento de representantes espíritas que se alinham com esse discurso. Esse mesmo candidato, que simboliza a antítese do pensamento cristão, justamente pelas ideias que defende, foi o mais votado entre os espíritas, segundo pesquisa eleitoral realizada pelo Datafolha. 

Cresci no movimento espírita – que nada tem a ver com o espiritismo, pois o primeiro é a interpretação que cada um faz das obras de Kardec - e hoje meu vinculo com esse movimento é bem frágil, quase inexistente, exatamente pela postura que tem adotado. 

Logo após o resultado do primeiro turno e prevendo a possível vitória de um candidato (o que, infelizmente, se consumou) que defende publicamente o fuzilamento de seus opositores e o banimento do que ele chama de "vermelhos" alguns amigos que fizeram parte dos grupos de juventudes comigo e que acreditam num espiritismo libertário, amoroso, dialógico e radicalmente contrário a violência e ao ódio, manifestaram preocupação. 

Alguns desses amigos não frequentam mais centros espíritas justamente por conta do que mencionei no inicio deste artigo. Paralelamente a isto, um outro grupo de jovens, estes ainda atuantes nas mocidades espíritas, também se opuseram ao candidato do ódio. 

Nossas trocas, entre os dois grupos, têm se dado de maneira virtual e um encontro presencial está previsto para o próximo sábado. Além disso, muitos desses jovens assinaram o "Manifesto de espíritas progressistas por justiça, paz e democracia". 

Pouco antes de seu desencarne, tive a alegria de ter uma conversa com uma senhora, espírita e militante de esquerda. Tomo a liberdade de reproduzir parte do diálogo, a seguir: 

"Meu filho, embora hoje eu já esteja velha e andando com dificuldades, minha memória está melhor que nunca (risos). Lembro muito bem daquele dia. Quando o jornal anunciou a derrubada do João Goulart na televisão, eu estava saindo do banho, enrolada na toalha, corremos para frente da televisão, abracei minha mãe e choramos, porque sabíamos que seria um período de trevas, os espíritos, mentores da casa, já tinham nos avisado. [...] Essas coisas a gente não esquece! Eu e minha mãe escondíamos nossos amigos que mexiam com política, com movimento estudantil, com o 'partidão' (comunista), dentro da câmara de passe..." 

Ela continuou: "Ou a gente fazia isso ou eles iam morrer de tanto apanhar da polícia. Nós éramos de família boa, família conhecida e por mais que a polícia desconfiasse, não vinham mexer com a gente. Acho que tinham era medo dos espíritos (risos). Naquela época, ainda tinha muito preconceito com quem era espírita. Quando a repressão começou a ficar mais forte, nós ficamos com muito medo de sermos descobertas. Um dia, estava bem frio e chovia muito, um amigo que tinha estudado comigo chegou correndo no centro espírita. Ele estava vestido apenas com um short, porque, quando a polícia chegou na casa dele, ele pulou o muro e não teve tempo de se vestir. Enquanto eu procurava uma roupa para aquecê-lo, minha mãe preparava um sopão, com tudo o que tinha direito (choro). Ele estava bem magro, sabe? Mas quando ele correu, fugindo, alguém viu ele entrar no centro e deve ter falado para a polícia. Não demorou trinta minutos, a polícia bateu na porta. Rapidamente, nós o escondemos debaixo da mesa do salão. Abrimos o evangelho e começamos a rezar, como se só estivesse nós duas encarnadas no salão (risos). Meus dentes batiam uns nos outros e eu não sabia se de frio ou de medo. A polícia entrou e continuamos sentadas, orando, pedindo a Deus e a Jesus não nos desamparasse (choro). Os policiais perguntaram se tínhamos visto um homem e deu as características do meu amigo. Nós negamos. Minha mãe, muito tranquilamente, perguntou ao policial se ele era médium (risos) e que ele poderia ter visto um espírito (mais risos), que era comum, quando não se "protegia", ver desafetos já desencarnados (risos). Os policiais foram embora, terminamos a oração, agradecendo a Deus e Jesus por ter nos livrado de mais uma provação, depois comemos toda a sopa." 

Relatos como esse nos apresentam uma contraposição em relação ao papel de alguns espíritas no golpe de 1964. Embora determinados representantes do espiritismo tenham apoiado – ou, no mínimo, se calado – diante das violações cometidas pelos militares durante todo o regime militar, outras, como essa senhora, tiveram um papel fundamental na defesa e proteção de ativistas políticos. 

No livro "1964: O golpe que derrubou um presidente", dos historiadores Jorge Ferreira e Ângela de Castro Gomes, fica evidente que a "Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade", ou a "Marcha da Família", foi um protesto promovido por setores das classes média e alta pedindo a derrubada do governo João Goulart. Neste "protesto" não marcharam apenas católicos e evangélicos, também espíritas participaram ativamente da marcha golpista. 

O protesto começou no centro de São Paulo, em 19 de março de 1964, seis dias após o comício de João Goulart na Central do Brasil, Rio de Janeiro, em que Jango reafirmou sua vocação nacionalista, mas a direcionou em favor de forças radicais como as da CGT (Central Geral de Trabalhadores, a "CUT" da época), das Ligas Camponesas (equivalente ao MST). 


Diante do atual cenário, muito parecido com o de 1964, ou renovamos o movimento espírita, criando espaços de diálogo, saindo dos centros e indo para as ruas, onde há problemas reais, ou corremos o risco de nos tornamos mais uma seita religiosa, contaminada de ideias preconcebidas e retrógradas. 

Defendo que essa renovação venha por meio da juventude, que não deve frequentar centro espírita apenas para fazer decoração para eventos ou para fazer teatro nos fins de semana. Ou a renovação do movimento espírita virá pela juventude ou não virá.

REUNIÕES PÚBLICAS DE NOVEMBRO - AGENDA


Eleições 2018: o que sobrou para os espíritas?


Por  Ana Cláudia Laurindo
Publicado em  29 de outubro de 2018 no Reporter Nordeste

Os últimos meses foram ricos em materiais de estudo, permitindo análises e como consequência deste empenho, posicionamentos. Como espírita, obviamente foquei nesta experiência de religiosidade e as revelações que o momento trazia, embora também tenha dissertado sobre movimentos evangélicos e católicos. Motivo? Busca de elo entre as concepções cristãs e os cristãos. Pois foi impactante ver cristãos imitando armas dentro dos seus templos e declarando voto a uma personalidade de representação beligerante, com pregações neofascistas de perseguição e extermínio de minorias e absoluta intolerância ao contraditório. 

Conheci os cristãos identificados com a tortura, acreditando que as vítimas são culpadas. Vi de perto e por escrito a ignorância em temas humanitários, da parte de palestrantes espíritas famosos. Li e reli seus palavrórios desenhados em série:” PT corrupto” (criador da corrupção brasileira, por certo – e quando for destituído o Brasil se tornará limpo e cheiroso), “quadrilha que acabou com o Brasil”, “erotização de crianças”, “ideologia de gênero”, “marxismo cultural”, em uma linha de repetição de frases de efeito espalhadas por whatsapp, que envergonharão os incautos que as repassaram para semelhantes, formando a maior rede de distribuição de notícias falsas com fins eleitoreiros que a história já registrou. 

Tantos me agrediram verbalmente pelo simples fato de questionar as bases de suas adesões ao homem de pior teor discursivo que este século mostrou ao Brasil. Boca plena de palavrões, frases desrespeitosas, desumanas e ameaças assumidas publicamente não foram motivos para deixar o cristão nem mesmo em alerta, quanto aos interesses deste homem no poder? O cristão fechou os olhos para o incentivo da caça aos “viados”? A desconstrução intencional da humanidade do “vermelho”? E a caricatura da mulher “feminista”? 

O cristão não viu a antecâmara da morte sendo montada para estes irmãos brasileiros? E de repente, todos estavam especialistas em política, odiando Lula e o PT. Espíritas exalando ódio! Pelas frases e pelas escolhas. Eu vi, eu ouvi, e senti a vibração da frase daquela que antes me beijava e abraçava, porque me julgava “igual”, e ao perceber meus posicionamentos políticos humanitários me gritou: “víbora comunista”! Sim, as eleições passaram. 

E tudo vai voltar ao normal. Não! Não vai voltar ao normal para os nossos irmãos homossexuais que estão com pavor do macho escroto que mata aos gritos de “Viva Bolsonaro”! Não vai voltar ao normal para os intelectuais e ativistas humanitários, ecológicos; para os artistas que exibiram a opinião libertária e derramaram apoio aos menores, para as mães temerosas, dos milhares de petistas brasileiros, que se tornaram alvo para o tiro estimulado por Bolsonaro, o presidente da fraquejada brasileira! 

E também não vai ser a mesma coisa para mim, que não consigo mais acreditar nas cúpulas de palestrantes espíritas, no dirigentes de casas, nos passistas, nos frequentadores, que elegeram a morte como solução para aquilo que os desagrada; e esse desagrado é humano, filho de alguém, amor de alguém, porque todos somos alguém no mundo! Estou me libertando de crer no que machuca a sensibilidade de quem ama além dos padrões! Ou o Movimento Espírita cresce, ou permanece no limbo, lambendo o ego dos famosos, e esquecendo que Jesus beijou os pés dos menores. 

Estou me alforriando da necessidade de pertença, para pertencer ao necessário instante de viver para o amor. Entre meus irmãos banidos, ameaçados de prisão e exílio, eu vejo o Cristo. Porque as casas de poderes nunca aceitaram de fato seu amor libertário, e de todas as maneiras buscam enquadrá-lo. Jesus não se importa em ser chamado de “travesti”, nem de caminhar com aqueles que transitam entre o corpo e a identidade, porque seu amor enxerga a luz que existe em cada vivente. Jesus nunca contratou advogados para defender seu túmulo, mas em nome dessa defesa milhares foram assassinados! 

Agora em nome de Jesus querem matar outra vez! E com a permissão dos cristãos! Porque nunca pararam de crucificar Jesus? Porque não querem dividir, nem partilhar, nem ser iguais! Muito menos aprender que os últimos serão os primeiros, os humilhados serão exaltados e aquele que quiser ser o maior no Reino de Deus, seja aquele que serve! 

Após as eleições não consigo mais seguir o rebanho que se diz cristão, e nem o catolicismo, o evangelismo ou o espiritismo, se tornaram referências de luz nestes dias de escuridão. Que as páginas do amanhã nos esclareçam, hoje a fumaça cinzenta que cobre o Brasil cheira a enxofre e pólvora. E isso não pode ser o fim. Há de ter recomeço.