quarta-feira, 18 de abril de 2012

HOJE COMEMORAMOS O ANIVERSÁRIO DE LANÇAMENTO DO LIVRO DOS ESPÍRITOS

Fonte: Revista Reformador Online

O Livro dos Espíritos - 155 anos 


Jorge Leite de Oliveira
Allan Kardec, pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, foi cognominado, por Camille Flammarion, o bom-senso encarnado. Desde sua juventude, este Espírito de escol demonstrava seu senso positivista e racional, como lemos na frase que escreveu, aos 24 anos, em obra sobre educação pública: Aquele que houver estudado as ciências rirá, então, da credulidade supersticiosa dos ignorantes. Não mais crerá em espectros e fantasmas. Não mais aceitará fogos-fátuos por Espíritos.1
Pois foi esse mesmo Rivail que, 26 anos mais tarde, já na madureza, foi chamado a observar “estranhos fenômenos” e, após certo tempo de hesitação e dúvidas, resolveu investigar in loco as chamadas manifestações das mesas girantes, muito em voga na Europa, em especial na França, ali pelos anos 50 do século XIX. Viu, ouviu e sentiu, naquelas comunicações, estar contida a síntese das revelações divinas à Humanidade. Foi-lhe, então, revelada sua missão2pelo Espírito Verdade e por outros Espíritos de escola, segundo a qual ele proporcionaria à Humanidade a certeza da existência, sobrevivência e manifestação das almas dos chamados mortos e as consequências morais advindas dessa certeza. Prepararia, pois, a Humanidade para uma vida melhor, resultante do conhecimento e prática das leis morais, com base no esclarecimento das respostas às perguntas que sempre nos inquietaram: Quem sou? De onde vim? Qual a finalidade de minha vida na Terra? Para onde vou após a morte do meu corpo físico? Diante da grandiosidade da nova revelação, Rivail cercou-se de todos os cuidados para evitar fraudes, bem como da companhia de pessoas sérias como ele, e, com base no método da observação e da experimentação, preparou 1.019 perguntas, que foram respondidas pelos emissários celestes, sobre as mais transcendentes questões.
Hippolyte adotou o pseudônimo Allan Kardec, “nome que, segundo lhe revelara o guia, ele tivera ao tempo dos druidas”,3 a fim de melhor desenvolver seus trabalhos, anônima e cautelosamente, uma vez que, segundo lhe fora informado, o Consolador prometido por Jesus provocaria enorme inquietação, mormente nas almas dos materialistas e religiosos despreparados para a chegada dos novos tempos: Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós. [...]  Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. (João, 14:15-18 e 26.)
Assim viria a lume a obra intitulada  O Livro dos Espíritos, inicialmente com 501 questões e já na segunda edição com 1.019, cujas respostas foram obtidas com a ajuda de médiuns, em especial mulheres, a maioria delas ainda bastante jovens. As informações colhidas por Kardec eram surpreendentes, anunciavam os primórdios de uma Nova Era para a Humanidade. Poucos anos depois, essa obra deu origem a quatro outras, que completaram o  trabalho gigantesco da codificação da Doutrina Espírita: O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Com humildade, Kardec sempre se eximiu da autoria da obra, a qual atribuiu exclusivamente aos Espíritos superiores que lhe transmitiram seus ensinamentos elevados. Mas seu trabalho foi muito além de simplesmente organizar e dispor as questões que deram origem a todo o edifício do Espiritismo. Comparava as respostas e rejeitava o que não estava de acordo com o “consenso universal”, por orientação das entidades superiores que o inspiravam, cuja direção suprema era a do Espírito Verdade. Refletia sobre as respostas, analisava-as, elaborava comentários de grande sabedoria e deduzia as consequências morais de alta relevância para a Humanidade, advindas do conhecimento e prática dessas revelações.
Na Introdução de O Livro dos Espíritos, somos esclarecidos sobre a Ciência espírita, que se baseia nas relações do mundo material com o dos Espíritos, os seres inteligentes do mundo espiritual. Com fulcro na moral de Jesus, a obra aborda, entre outros, os seguintes assuntos: Existência de Deus; Imortalidade da Alma; Mundo dos Espíritos; Reencarnação; Pluralidade dos Mundos Habitados e Comunicabilidade dos Espíritos. Em Prolegômenos, lemos o  anúncio dos Espíritos de que são chegados “os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal”. Os Espíritos superiores são os ministros de Deus e os agentes de sua vontade. Sua missão é instruir e esclarecer os homens, abrindo-se “uma Nova Era para a regeneração da Humanidade". As informações sobre as Causas Primeiras, que têm Deus como a base de tudo, com 75 questões respondidas, estão contidas no Livro Primeiro dessa obra, que se subdivide em quatro Livros ou Partes. No Livro Segundo, estão impressas as informações sobre o Mundo Espiritual ou dos Espíritos. Essa parte vai da questão 76 a 613. Ali, encontramos informações sobre os três elementos do ser humano: alma, perispírito e corpo. Nesse Livro, temos ainda esclarecimentos de que a reencarnação se caracteriza pela passagem das almas por muitas existências corporais e de que “tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou pelo átomo” (Q. 540). Ao tornarmo-nos Espíritos puros, não mais estaremos sujeitos a reencarnações em corpos grosseiros; a natureza espiritual será nossa conquista permanente, junto com a felicidade, que jamais se confunde com um estado de eterna ociosidade, haja vista que, para os Espíritos superiores, o trabalho nada tem de penoso, e sim de imenso prazer e colaboração permanente com o Criador. O Livro Terceiro trata sobre as Leis Morais. Possui 12 capítulos. Nele, somos informados de que a Lei Divina está escrita em nossa consciência (Q. 621), de que Jesus é o tipo mais perfeito que Deus já nos ofereceu para nos guiar e servir de modelo (Q. 625).

Também temos ali a informação de que o meio prático mais eficaz de nos melhorarmos nesta vida e de resistir ao arrastamento do mal é o do autoconhecimento, junto à mais desinteressada caridade, e de que a moral, regra de bem proceder, funda-se na estrita observância da lei de Deus (Q. 919 e 919a). Por fim, deparamo-nos, no Livro Quarto, com as Esperanças e Consolações, em apenas dois capítulos, que nos fazem refletir sobre temas como o de que somos obreiros de nosso próprio sofrimento, mas também da felicidade, quando, com nossa melhoria e trabalho, colaborarmos para a transformação da Humanidade. Cabe-nos, para isso, combater a grande praga do nosso tempo: o materialismo, fonte de imensas desgraças, pela degradação moral a que são levados os que nele creem, dando vazão aos instintos primitivos. A elevação espiritual de Allan Kardec ressalta destas suas palavras, em 12 de junho de 1856, ao receber a incumbência do Espírito Verdade de tornar-se o missionário da Codificação Espírita, que anuncia uma Nova Era para a Humanidade:Senhor! Já que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade! A minha vida está nas tuas mãos; dispõe do teu servo. Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não desfalecerá, mas talvez as forças me traiam. Supre a minha deficiência; dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos momentos difíceis e, com o teu auxílio e o amparo dos teus celestes mensageiros, tudo farei para corresponder aos teus desígnios.4
Cerca de 10 meses depois, a 18 de abril de 1857, era publicada a primeira edição de O Livro dos Espíritos, e um  novo tempo inaugurava-se para a Humanidade! Cabe a nós, espíritas, estudar, refletir, comparar com as demais obras da Codificação de Kardec e com os acontecimentos de nossa época o conteúdo desse livro sempre atual e de incomparável grandeza. Compete-nos trabalhar o sentimento e as ações na prática incessante do bem e na divulgação dessa obra grandiosa, proveniente das mais altas regiões espirituais, de onde o Cristo de Deus dirige os destinos da Terra. Unamo-nos, como um feixe de varas conduzido por Jesus, a fim de colaborarmos, humildemente, com sua obra de transformação da Terra num mundo destinado aos justos e onde as misérias material e moral não mais proliferem. Amemo-nos e instruamo-nos, começando pelo estudo e aplicação prática de O Livro dos Espíritos!

1. WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador. 3. ed.
2. reimp. v. 1. Rio de Janeiro: FEB, 2011. P. 2, cap. 1, it. 4, p. 263. 2 KARDEC, Allan. Obras póstumas.Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, Minha missão, 12 de junho de 1856, p. 366. Capa 3 WANTUIL, Zêus; THIESEN. Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador.
3. ed. 2. reimp. v. 1. Rio de Janeiro: FEB, 2011. P. 2, cap. 1, it. 6, p. 275.
4 KARDEC, Allan. Obras póstumas.Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, Minha missão, 12 de junho de 1856, p. 369.