domingo, 5 de maio de 2019

AGENDA DE MAIO - REUNIÕES PÚBLICAS


ARTIGO | Espiritismo e progresso social


"Somente uma verdadeira ideologia espiritual 
será capaz de promover uma verdadeira revolução 
que substitua o sistema materialista 
sobre o qual se desenvolvem o homem 
e a sociedade atuais." 

A evolução social, ao avançar paralelamente com o espiritual, redundará na harmonia e na fraternidade. É assim que se produzirá o que qualificamos como reconhecimento dos espíritos encarnados entre si e uma transfiguração espiritual da luta de classes. Mas isto só se alcançará se os espíritas se entregarem ao estudo das questões sociais, abandonando o conceito conservador que ainda sustentam em suas considerações sociológicas, em contradição com as considerações de Kardec, que afirmou: 'Uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se e os mesmos que a isso se opõem com mais empenho são os que mais o ajudam, sem sabê-lo; a geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada com elementos mais depurados, estará animada de ideias e sentimentos muito diferentes dos da geração passada, que desaparece a passos de gigante. O velho mundo terá morrido e só viverá na história, como morreram os tempos da Idade Média, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas. A geração que desaparece levará consigo suas preocupações e seus erros; a geração que surge, alimentada em fontes mais puras, imbuída de ideias mais sadias, imprimirá ao mundo um movimento ascensional no sentido do progresso moral que deve marcar a nova face da humanidade.

Como vemos, Kardec era um progressista e um sociólogo, com vistas ao futuro da sociedade humana; por isso via na filosofia espírita um dos melhores instrumentos para dar impulso à marcha da evolução individual e coletiva. A esse respeito, escreveu: O espiritismo tem que desempenhar um grande papel neste movimento regenerador; não o espiritismo inventado por uma crítica maligna e cética, mas o espiritismo filosófico. (A Gênese). 

Onde Kardec mostra a verdadeira posição do espiritismo, frente ao pensamento moderno, é quando escreve: 'A nova geração marchará, pois, para a realização de todas as ideias humanitárias compatíveis com o grau de adiantamento a que tenha chegado. O espiritismo, que aspira ao mesmo fim e realiza as suas metas, encontrar-se-á com ela no mesmo campo.' A respeito dos homens refratários ao progresso, Kardec opinou do seguinte modo: 'Aqueles cujos interesses materiais estão ligados ao presente estado de coisas e que não se acham bastante adiantados para deles se desprenderem com abnegação e a quem o bem geral importa menos que o pessoal, não podem ver sem receio nenhum movimento reformista. A verdade é para eles uma questão secundária ou, melhor dizendo, a verdade para certas pessoas está toda naquilo que não lhes causa extorsão alguma; todas as ideias progressistas são para elas subversivas, e por isso lhes votam um ódio implacável e lhes fazem encarniçada guerra.

Como vemos, Kardec não estava de acordo com os tímidos nem tampouco com os espíritas misoneístas. Para ele, a condição de espírita militante significava um estado mental que superara as antigas formas do pensamento, sendo essa a razão de haver escrito: 'O espiritismo, marchando com o progresso, nunca sê verá derrotado nem superado, porque, se novos descobrimentos lhe provarem que está em erro num determinado ponto, ele se modificará nesse ponto, e se uma verdade nova se revelasse, ele a aceitaria'. (A Gênese). 

O pensamento adiantado e dinâmico de Kardec mostra-nos que os seus discípulos deveriam ser lídimos representantes da evolução humana. Lembremo-nos de que o idealismo espírita é uma força criadora, que incide sobre o caráter, fazendo surgir o homem dinâmico ante as contradições da existência. Seu ideal é como um sonho ligado diretamente com o futuro; é a poderosa antena que permite às almas dialogar com o invisível; saber quais os dramas e as grandezas que nos reserva o mundo desconhecido de amanhã. Sua visão renova a mente, ilumina o horizonte filosófico do homem e revela um novo Deus no grande Plano do Universo. Por ele ouvimos as harmonias cósmicas como longínquas e desconhecidas músicas, revelando que tudo se enlaça na natureza e na história e que tanto reis, príncipes e camponeses, como ricos e proletários, todos são atores de uma grande epopeia espiritual, que tem como magnífico cenário os mundos e os sóis. 

O ideal espírita é inspiração para os visionários, canto de esperança para os poetas e força criadora para os reformadores. Incita o que ama a penetrar no mistério das almas e a descobrir a profunda história dos mundos e dos destinos individuais e coletivos. Ilumina de amor os olhares, acende a fé nos corações e dá asas aos espíritos. 

Kardec e Denis sonharam com valentes discípulos deste tipo ideológico, isto é, com atletas da verdade, com mártires das revoluções e com homens-colunas para a luz do pensamento divino. É indubitável que todo espiritualista espírita deveria possuir uma mentalidade socialista ao considerar os graves problemas econômicos e sociais que afligem o mundo contemporâneo. O espiritualismo espírita é a mais segura concepção ideológica com a qual se pode desenvolver uma exata interpretação idealista do homem e da história. Pois tudo quanto se afirme, para idealizar o processo econômico da história, será insuficiente, se essa idealização não estiver apoiada por fatos espirituais evidentes. 

Propiciar, como se pretende, uma revolução romântica, no tocante às estruturas sociais, sem bases firmes e profundas, é perder tempo, em meio a uma voragem materialista que tudo envolve e atropela. Não nos esqueçamos de que o idealismo revolucionário somente poderá arraigar-se nos espíritos quando o espiritualismo espírita for capaz de organizar uma grande força social, sobre as bases de uma autêntica realidade espiritual. As forças revolucionárias não são privativas das ideologias materialistas, se se considerar que, do ponto de vista filosófico, essas ideologias são incapazes de resistir à destruidora influência das concepções niilistas. 

A teoria espírita, ao contrário, pode infundir fortaleza moral no campo da ação, porque somente uma verdadeira ideologia espiritual será capaz de promover uma verdadeira revolução que substitua o sistema materialista sobre o qual se desenvolvem o homem e a sociedade atuais. 

Dissemos que o espiritualista espírita deveria possuir uma mentalidade socialista, por não conceber-se outro tipo conservador ou aferrado às velhas concepções ideológicas. Acreditamos que a espiritualização do socialismo, cuja essência verdadeira acha-se na ideia cristã, será obra do novo espiritualismo que se desprende do kardecismo, como a socialização do espiritualismo se produzirá pelas necessidades espirituais da sociedade socialista. Em consequência, o lugar dos espíritas será a sociedade, sem por isso descuidar das grandes leis psíquicas e espirituais, que enlaçam entre si os três reinos da natureza.  

HUMBERTO MARIOTTI 
O Homem e a Sociedade Numa Nova Civilização